IPS em português https://www.ipsnews.net/portuguese Jornalismo e comunicação para transformar o mundo Mon, 15 Mar 2021 19:30:34 +0000 en-US hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.1.3 Removendo barreiras ao papel principal das mulheres na agricultura africana https://www.ipsnews.net/portuguese/2021/03/africa/removendo-barreiras-ao-papel-principal-das-mulheres-na-agricultura-africana/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2021/03/africa/removendo-barreiras-ao-papel-principal-das-mulheres-na-agricultura-africana/#respond Thu, 04 Mar 2021 19:26:19 +0000 http://www.ipsnoticias.net/portuguese/?p=22835

O artigo de opinião a seguir faz parte de uma série que marcará o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. IBADAN, Nigéria, 4 de março de 2021 (IPS) – A população da África dobrará até 2050 se as… Continue Reading

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O artigo de opinião a seguir faz parte de uma série que marcará o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.

IBADAN, Nigéria, 4 de março de 2021 (IPS) – A população da África dobrará até 2050 se as taxas de crescimento continuarem sua trajetória atual, mas a criação de empregos não está acompanhando esse ritmo, com até cinco vezes mais jovens procurando colocação a cada ano. E, além disso, a pandemia de Covid está mergulhando a África em sua primeira recessão em 25 anos.

Mas, mais uma vez, a agricultura está demonstrando sua importância crucial em tempos de crise. Uma pesquisa recente do Banco Mundial, em cinco países africanos, mostrou que mais pessoas estão se voltando para a agricultura por causa dos impactos econômicos da pandemia. “Há evidências de que o setor agrícola está servindo como um amortecedor para famílias de baixa renda na região, semelhante ao papel que desempenhou durante a crise econômica global de 2008”, aponta a investigação.

Na Etiópia, por exemplo, 41% das famílias que receberam renda da agricultura nos últimos 12 meses relataram perda de ganho. Mas 85% das famílias experimentaram perda de renda em negócios familiares não agrícolas e 63% relataram uma redução nas remessas.

Com uma população maior dependendo da agricultura para segurança alimentar e como fonte de sustento, as mulheres e os jovens desempenharão um papel particularmente crítico no desenvolvimento da agricultura na África subsaariana, onde 40% a 60% de todas as mulheres empregadas trabalham na agricultura.

Com a mudança demográfica, é importante examinarmos o papel que as mulheres e os jovens desempenham na garantia da segurança alimentar na África subsaariana e entender como essas dinâmicas estão mudando, além de identificar os velhos e novos desafios enfrentados pelas mulheres.

Um estudo recente apoiado pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), sem fins lucrativos, descobriu que, entre os estudantes universitários do último ano no noroeste da Nigéria, as mulheres jovens têm a mesma probabilidade de expressar a intenção de se envolver na agricultura após a graduação, assim como os homens. O Banco Mundial estima, no entanto, que atualmente as mulheres representam cerca de 37% da produção agrícola na Nigéria. Maiores investimentos na promoção das mulheres na agricultura podem beneficiar significativamente a produtividade.

O Conselho de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), uma parceria global que abrange várias organizações envolvidas na transformação de sistemas alimentares, argumenta que a atenção não deve repousar em estimativas inflacionadas de quantos alimentos as mulheres produzem, mas sim no “reconhecimento de que a remoção de barreiras que limitam o potencial das mulheres poderia ter o duplo benefício de aumentar rendimentos das mulheres agricultoras e oferecer mais alimentos para todos”.

As barreiras para uma maior produção agrícola não podem ser atribuídas a uma única causa. Terri Raney, editora do relatório da The State of Food and Agriculture, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), afirmou: “As mulheres agricultoras normalmente obtêm rendimentos mais baixos do que os homens, não porque sejam menos qualificadas, mas porque operam fazendas menores e usam menos insumos como fertilizantes, sementes melhoradas e ferramentas”.

Um relatório do Banco Mundial, de 2018, detalhou as lacunas de gênero na posse de propriedades na África subsaariana. Um de seus pontos mais importantes foi que as mulheres têm menos probabilidade de possuir terras ou casa do que os homens.

No entanto, mais barreiras estão sendo levantadas ao envolvimento das mulheres na agricultura, pois, sob a pressão de questões de segurança alimentar global, os governos da África subsaariana estão arrendando grandes extensões de terra para países e empresas estrangeiras. A Oxfam, em um relatório sobre grilagem de terras, enfatiza que muitas vezes isso prejudica as mulheres rurais: “Assim que um recurso natural ganha valor comercial no mercado internacional de commodities, o controle e as decisões sobre esse recurso passam rapidamente das mulheres rurais para as mãos dos homens”.

Embora aceite que a África subsaariana precisa de investimentos na agricultura, deve-se prestar atenção em como os trabalhadores rurais, especialmente as mulheres, podem não se beneficiar desses negócios.

O IITA lançou 80 bolsas de pesquisa para jovens acadêmicos africanos, com ênfase específica em profissionais e estudantes do sexo feminino, por meio do projeto Melhoria da Capacidade de Aplicação de Evidências de Pesquisa (Care), financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), que visa ao desenvolvimento de políticas de agronegócio eficazes, que gerem sucesso para os jovens na África subsaariana.

O Fida está cada vez mais concentrando seus recursos nos jovens como uma prioridade, uma vez que a transformação rural bem-sucedida depende de sua inclusão no processo.

Os programas para jovens do IITA – como o IITA Youth Agripreneurs (IYA), o Empowering Novel Agri-Business-Led Employment (ENABLE Youth), o Young Africa Works, e o Start Them Early Program (Step) – estão focados no incentivo à participação e engajamento de crianças em idade escolar e jovens no agronegócio. Investir no futuro da geração mais jovem da África enfatiza a importância de aumentar a ambição dos alunos do ensino fundamental e médio para garantir um continente com segurança alimentar e nutricional. Isso também seria importante para o desenvolvimento de jovens líderes femininas na agricultura, cujas habilidades de liderança adquiridas as capacitarão a ajudar nos esforços de resposta e recuperação da Covid-19.

O IITA e organizações parceiras, como o Banco Africano de Desenvolvimento, a Fundação Mastercard, o Fida e o governo do Estado de Oyo, acreditam que a pobreza, a fome e a desnutrição na África não podem ser abordadas sem levar em consideração as restrições enfrentadas pelas mulheres e jovens agricultores que, na maioria das comunidades, fornecem a maior parte da mão-de-obra da fazenda familiar, bem como do processamento dos alimentos para os mercados e para o consumo familiar. Essas restrições são uma parte central da pesquisa apoiada pelo IITA por meio de seu projeto Care.

Em Camarões, Djomo Choumbou Raoul Fani examinou as contribuições e a competitividade das jovens agricultoras e suas recomendações incluem mudanças nos sistemas de posse da terra, controles de preços e sistemas de crédito. A pesquisa de Oluwaseun Oginni descobriu que 43% dos jovens que migram para áreas urbanas do interior da Nigéria são mulheres, e os principais motivos citados são “a busca por um futuro melhor, oportunidades educacionais e casamento”.

Cynthia Mkong analisou as motivações dos estudantes que escolhem a agricultura como curso universitário em Camarões, onde o desemprego feminino é o dobro do masculino. Mkong recomenda focar em políticas que melhorem a educação das meninas e aumentem a renda familiar em todos os níveis. Essas mudanças provavelmente reverterão o declínio do interesse dos jovens na agricultura.

O projeto Care do IITA está permitindo que as mulheres tragam experiências, perspectivas e habilidades diferentes para a mesa, que podem contribuir para decisões, políticas e leis que funcionam melhor para todos. Seu papel de liderança é agora cada vez mais crítico nos esforços de resposta e recuperação da Covid-19.

Ao marcarmos o Dia Internacional da Mulher em 8 de março, o IITA está empenhado em promover um maior envolvimento das mulheres para que o IITA possa desempenhar um papel mais significativo na pesquisa e no mundo. As mulheres são os líderes e construtores de que precisamos.

O autor é diretor-geral do IITA.

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A inovação bem-sucedida nas culturas está mitigando o impacto da crise climática na África https://www.ipsnews.net/portuguese/2021/02/ultimas-noticias/a-inovacao-bem-sucedida-nas-culturas-esta-mitigando-o-impacto-da-crise-climatica-na-africa/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2021/02/ultimas-noticias/a-inovacao-bem-sucedida-nas-culturas-esta-mitigando-o-impacto-da-crise-climatica-na-africa/#respond Wed, 17 Feb 2021 20:45:39 +0000 http://www.ipsnoticias.net/portuguese/?p=22830

Martin Kropff é diretor-geral do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo, e Nteranya Sanginga é diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical.   IBADAN, Nigéria, e CIDADE DO MÉXICO, México, 17 de fevereiro de 2021 (IPS) – Os… Continue Reading

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Martin Kropff é diretor-geral do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo, e Nteranya Sanginga é diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical.

 
IBADAN, Nigéria, e CIDADE DO MÉXICO, México, 17 de fevereiro de 2021 (IPS) – Os pequenos agricultores africanos não têm escolha a não ser se adaptar às mudanças climáticas: 2020 foi o segundo ano mais quente já registrado, enquanto secas prolongadas e enchentes explosivas ameaçam diretamente a subsistência de milhões . Na década de 2030, a falta de chuvas e o aumento das temperaturas podem tornar 40% da área de cultivo de milho da África inadequada para variedades vulneráveis ao clima, enquanto o milho continua sendo o alimento básico preferido e acessível para milhões de africanos que sobrevivem com menos que alguns dólares de renda por dia.

Os agricultores de todo o continente entendem que a crise climática está afetando suas colheitas e seu pão de cada dia. Na África subsaariana, um número crescente de pessoas apresenta desnutrição crônica, com mais de 21% da população sofrendo de insegurança alimentar grave.

A batalha global contra as mudanças climáticas, e todos os seus impactos interligados, requer uma abordagem multissetorial para formular respostas abrangentes. Para os agricultores da África Subsaariana, especialmente os pequenos proprietários, isso envolve a produção de variedades de cultivo melhoradas, que não são apenas de alto rendimento, mas também tolerantes à seca e ao calor, resistentes a doenças e pragas de insetos, e que possam contribuir para minimizar o risco de cultivos sob condições de seca.

O Conselho de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), uma parceria global envolvendo várias organizações engajadas na transformação de sistemas alimentares, está na vanguarda da inovação tecnológica e sua implantação por muitas décadas. O Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT) e o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) são os dois centros de pesquisa do CGIAR que realizam estudos inovadores sobre o milho e um trabalho de desenvolvimento em ambientes propensos ao estresse na África.

O desenvolvimento bem-sucedido de variedades de milho adaptadas ao clima para a África subsaariana foi liderado por esses dois centros do CGIAR, que implementaram projetos como o Milho Tolerante à Seca para a África (DTMA) e o Milho Tolerante ao Estresse para a África (STMA), em conjunto com parceiros do setor nacional e privado nos principais países produtores de milho na África Oriental, Meridional e Ocidental. Sob a iniciativa DTMA de 10 anos, cerca de 160 variedades de milho acessíveis e escaláveis foram lançadas.

A inovação bem sucedida nas culturas está mitigando o impacto da crise climática na África

Uma pequena agricultora no norte de Uganda em sua fazenda de milho DT. Foto: CIMMYT

Variedades de milho de alto rendimento, tolerantes ao estresse múltiplo, em que é usado o germoplasma de milho CIMMYT/IITA, lançadas depois de 2007 (o ano em que o projeto DTMA foi iniciado) são estimadas em cinco milhões de hectares em 2020 na África subsaariana. A adoção de variedades de milho tolerantes à seca (DT) ajudou a colocar milhões de pessoas acima da linha da pobreza em todo o continente. Por exemplo, no sul do Zimbábue, sujeito à seca, os agricultores que usam variedades DT em anos secos foram capazes de colher até 600 quilos a mais de milho por hectare – o suficiente para uma família média de seis pessoas por nove meses – do que os agricultores que semearam variedades convencionais.

O projeto STMA, que se seguiu ao DTMA, também operou na África subsaariana, onde 176 milhões de pessoas dependem do milho para nutrição e bem-estar econômico. O projeto, que terminou em 2020 – sucedido por um novo projeto chamado Acelerando Ganhos Genéticos para Melhoramento de Milho e Trigo (AGG) –, desenvolveu novas variedades de milho que podem ser cultivadas com sucesso sob seca, fertilidade do solo abaixo do ideal, estresse por calor e doenças e pragas. Em 2020, as variedades de milho tolerantes ao estresse relacionadas ao CGIAR foram estimadas em mais de cinco milhões de hectares, beneficiando mais de 8,6 milhões de pequenos agricultores em 13 países da África subsaariana.

A inovação bem sucedida nas culturas está mitigando o impacto da crise climática na África

Martin Kropff, diretor-geral do CIMMYT

No Quênia, os agricultores que utilizam as novas variedades de milho estão colhendo de 20% a 30% mais grãos do que os que não cultivam sementes tolerantes à seca. Prasanna Boddupalli, diretora do Programa Global de Milho do CIMMYT e do Programa de Pesquisa de Milho do CGIAR, diz que isso tem um efeito cascata nos meios de subsistência, melhorando o consumo nutricional da comunidade, ajudando as crianças a voltar à escola e reduzindo a pobreza.

Em uma entrevista ao blog Gates Notes, a agricultora queniana Veronica Nduku, que cultiva milho tolerante à seca do CIMMYT há dez anos, disse que sempre colhe, mesmo quando não há chuva.

Em Zâmbia, um estudo do CIMMYT e do Center for Development Research mostrou que o milho tolerante à seca pode aumentar os rendimentos em 38% e reduzir os riscos de quebra de safra em 36%, embora três quartos dos agricultores no estudo enfrentassem seca durante a pesquisa.

Além das variedades de milho melhoradas adaptáveis ao clima, tanto o CIMMYT quanto o IITA desenvolveram variedades de milho biofortificadas com pró-vitamina A. A deficiência de vitamina A é altamente prevalente em populações da África subsaariana, e essas variedades, desenvolvidas em parceria com a HarvestPlus, estão sendo implantadas em países-alvo em parceria com programas nacionais e empresas de sementes.

Comemorando o 50º aniversário de sua fundação neste ano, o CGIAR revelou seu roteiro para uma nova estratégia de dez anos na Cúpula de Adaptação ao Clima 2021, online, organizada pela Holanda em janeiro. A nova estratégia de pesquisa sustentável coloca as mudanças climáticas no centro de sua missão, com ênfase no realinhamento dos sistemas alimentares em todo o mundo, com foco em cinco áreas de impacto: nutrição, pobreza, inclusão, adaptação e mitigação do clima, saúde ambiental.

Por meio da transformação do sistema alimentar, sistemas agroalimentares resilientes e inovações genéticas, a ambição do CGIAR é atender e ir além dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu um esforço global combinado para realinhar radicalmente os sistemas alimentares para atingir os 17 ODS até 2030. O CGIAR adverte que, sem mais intervenções baseadas na ciência para alinhar a agricultura com as metas climáticas, o número de pessoas subnutridas em todo o mundo pode ultrapassar 840 milhões até 2030.

A inovação bem sucedida nas culturas está mitigando o impacto da crise climática na África

Nteranya Sanginga, diretor-geral do IITA

Para mudar seu foco e investimento em pesquisas agrícolas que respondam à crise climática, o CGIAR está passando por uma reforma institucional. Chamada de Um CGIAR, a reformulação dinâmica das parcerias, conhecimentos, ativos e presença global do CGIAR visa a uma maior integração e impacto em face dos desafios interdependentes que o mundo de hoje enfrenta. As inovações científicas em sistemas alimentares, terrestres e hídricos serão implantadas mais rapidamente, em maior escala e com custo reduzido, tendo maior impacto onde são mais necessárias.

O progresso pioneiro até o momento não teria sido possível sem o generoso financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates. Mesmo assim, Bill Gates, que reconhece o papel essencial do CGIAR em “alimentar nosso futuro”, também aponta que os níveis atuais de investimento não chegam nem à metade do que é necessário.

Os investimentos em melhoramento de milho e inovações no sistema de sementes devem se expandir para acompanhar a capacidade de resistir à variabilidade climática na África subsaariana, a região mais cronicamente desnutrida do mundo, e fornecer segurança alimentar e nutricional para milhões de pequenos produtores dependentes de milho e com recursos limitados, e consumidores.

No CIMMYT e no IITA, investimos no melhoramento de longo prazo para aumentar os ganhos genéticos, usando muitas novas ferramentas e tecnologias. Esses esforços precisam ser intensificados. Também é necessário mais financiamento para que sementes de qualidade de variedades de milho resistentes ao clima cheguem aos pequenos proprietários. Enquanto 77% das famílias zambianas entrevistadas para o estudo disseram que experimentaram seca em 2015, apenas 44% sabiam sobre o milho tolerante à seca.

Ciente de que a adoção de novas tecnologias e práticas pode ser arriscada para agricultores com poucos recursos, que não desfrutam da proteção de redes de segurança de bem-estar social nos países ricos, o CIMMYT incentiva os agricultores, empresas de sementes e outros usuários finais a envolverem-se no processo de desenvolvimento.

Não é suficiente reduzir as emissões de carbono. Os agricultores africanos precisam se adaptar rapidamente ao aumento das temperaturas, secas prolongadas e inundações violentas e devastadoras. Com variedades de milho de maior rendimento e tolerantes ao estresse, os pequenos agricultores têm a oportunidade não apenas de combater as variabilidades climáticas, doenças e pragas, mas também de diversificar efetivamente suas fazendas. Isso lhes permitirá, por sua vez, uma melhor adaptação às mudanças climáticas e acesso a dietas balanceadas e acessíveis. À medida que as mudanças climáticas se intensificam, as inovações agrícolas também devem ocorrer. É hora de uma abordagem incomum para os negócios.

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ENTREVISTAS DO BOLETIM INFORMATIVO DO FUNDO A EDUCAÇÃO NÃO PODE ESPERAR SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, ANTÓNIO GUTERRES https://www.ipsnews.net/portuguese/2021/02/direitos-humanos/entrevistas-do-boletim-informativo-do-fundo-a-educacao-nao-pode-esperar-secretario-geral-das-nacoes-unidas-antonio-guterres/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2021/02/direitos-humanos/entrevistas-do-boletim-informativo-do-fundo-a-educacao-nao-pode-esperar-secretario-geral-das-nacoes-unidas-antonio-guterres/#respond Fri, 05 Feb 2021 06:52:29 +0000 http://www.ipsnoticias.net/portuguese/?p=22823 ECW: Por que motivos a educação é uma prioridade nas emergências e crises prolongadas? António Guterres: A pandemia de COVID-19 devastou as sociedades e criou a maior desestabilização de sempre nos sistemas educativos, afetando mais de 1,5 mil milhões de… Continue Reading

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ECW: Por que motivos a educação é uma prioridade nas emergências e crises prolongadas?

António Guterres: A pandemia de COVID-19 devastou as sociedades e criou a maior desestabilização de sempre nos sistemas educativos, afetando mais de 1,5 mil milhões de estudantes. Embora tenham sido aplicadas soluções de ensino à distância, uma em cada três crianças não teve acesso a essas oportunidades, o que expôs e agravou desigualdades e vulnerabilidades, em especial para aqueles que se encontram em situação de crise. Em tais circunstâncias, a educação protege as raparigas e os rapazes da violência e da exploração sexuais, do tráfico, da gravidez precoce e do casamento infantil, do recrutamento forçado para grupos armados e do trabalho infantil. Também assegura que continuem a aprender, oferecendo-lhes esperança para o futuro. Ao entrarmos em 2021, a educação tem de estar no cerne da resposta à pandemia e dos esforços de recuperação. Sem um compromisso político resoluto dos dirigentes mundiais, bem como recursos adicionais para o fundo “A educação não pode esperar” e os seus parceiros da ONU e da sociedade civil, milhões de raparigas e rapazes poderão nunca voltar à escola. O investimento na educação dessas crianças e jovens vulneráveis é um investimento na paz, na prosperidade e na resiliência das gerações vindouras, bem como uma prioridade para as Nações Unidas.

ECW: Por que motivos é importante facilitar uma maior colaboração entre os atores humanitários e os do desenvolvimento em contextos de crise?

António Guterres: Com a intensificação dos conflitos, as catástrofes relacionadas com as alterações climáticas, os deslocamentos forçados a atingirem níveis sem precedentes e as crises a prolongarem-se mais do que nunca, as necessidades humanitárias continuam a crescer a um ritmo que supera a resposta, apesar da generosidade dos doadores de ajuda. As parcerias são cruciais para transformar o sistema de ajuda, acabar com as compartimentações e assegurar que a ajuda seja mais eficiente e economicamente racional. Os programas para a educação integral da criança oferecem um caminho comprovado para as partes interessadas colaborarem no sentido de habilitar as crianças e os jovens vulneráveis para o acesso a uma educação de qualidade em ambientes de aprendizagem seguros, com vista a que concretizem o seu pleno potencial.

ECW: Que mensagem gostaria de partilhar com as raparigas e os rapazes afetados pela crise, cujo direito à educação ainda está por realizar?

António Guterres: Acima de tudo, presto-lhes homenagem pela sua resiliência e comprometo-me a trabalhar com os governos, a sociedade civil e todos os parceiros a fim de superar a pandemia e a crise, que têm constituído reveses tão profundos nas suas vidas. Temos também de intensificar os nossos esforços para reimaginar a educação, formando professores, colmatando o fosso digital e repensando os currículos, no sentido de dotar os educandos de competências e conhecimentos para prosperarem no nosso mundo em rápida mudança.

ECW: Enquanto estudante do ensino secundário em Portugal, ganhou o “Prémio Nacional dos Liceus” como melhor estudante do país. Depois de concluir os estudos universitários em engenharia, iniciou uma carreira como professor. Pode dizer-nos o que significa a educação para si?

António Guterres: Muito antes de exercer funções nas Nações Unidas ou ocupar cargos públicos, fui professor. Nos bairros degradados de Lisboa, vi que a educação é um motor para a erradicação da pobreza e uma força para a paz. Hoje em dia, a educação está na essência dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Precisamos de educação para reduzir as desigualdades, alcançar a igualdade de género, proteger o nosso planeta, combater o discurso de ódio e fomentar a cidadania global. A defesa da nossa promessa de não deixar ninguém para trás começa pela educação.

ECW: Após a turbulência de 2020, qual é a sua mensagem para o mundo ao entrarmos em 2021?

António Guterres: 2020 trouxe-nos tragédia e perigo. 2021 tem de ser o ano para mudar de velocidade e pôr o mundo no caminho certo. A pandemia fez-nos chegar a um momento crucial. Podemos deixar para trás um annus horribilis para fazer de 2021 um “annus possibilitatis”: um ano de possibilidade e esperança. Temos de o fazer acontecer, em conjunto.

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Projeto Care oferece políticas que geram sucesso para jovens no agronegócio https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/11/africa/projeto-care-oferece-politicas-que-geram-sucesso-para-jovens-no-agronegocio/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/11/africa/projeto-care-oferece-politicas-que-geram-sucesso-para-jovens-no-agronegocio/#respond Sat, 28 Nov 2020 20:12:44 +0000 http://www.ipsnoticias.net/portuguese/?p=22818 IBADAN, Nigéria, 25 de novembro de 2020 (IPS) – Frequentemente citado como o maior patrimônio da África, seus jovens também estão entre os mais vulneráveis e voláteis. Uma grande e crescente população de jovens talentosos tem o potencial de impulsionar… Continue Reading

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IBADAN, Nigéria, 25 de novembro de 2020 (IPS) – Frequentemente citado como o maior patrimônio da África, seus jovens também estão entre os mais vulneráveis e voláteis. Uma grande e crescente população de jovens talentosos tem o potencial de impulsionar o crescimento econômico e o bem-estar das sociedades em todo o continente, mas, como alerta o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), as atuais condições de desemprego severo estão se traduzindo em condições de vida mais precárias, maiores fluxos de migração, e mais riscos de conflito – em suma, um desastre social em formação.

Projeto Care oferece políticas que geram sucesso para jovens no agronegócio

Victor Manyong

Prevê-se que a população africana de jovens com idades entre 15 e 35 anos, de cerca de 420 milhões, quase duplique até 2050. Embora mais 10 a 12 milhões entrem na força de trabalho a cada ano, apenas pouco mais de 3 milhões de novos empregos estão sendo criados. Atualmente, dois terços dos jovens não estudantes são definidos como desempregados, subempregados, desencorajados ou empregados precários. Além disso, o desemprego permeia diferentes categorias sociais: escolaridade baixa, feminina e masculina, rural e urbana.

A pandemia de Covid-19 também está contribuindo para o aumento do desemprego nos setores mais atingidos, como turismo, hospedagem, varejo, comércio e agricultura, especialmente na África Austral, a região com as maiores taxas de desemprego.

O plano de investimento Empregos para os Jovens na África, do BAD, lançado em 2016, tem como meta para a agricultura – incluindo a produção na fazenda e o processamento fora dela – a criação de 41 milhões de empregos em dez anos. Mesmo levando em consideração que os pequenos agricultores representam mais de 60% da população na África Subsaariana, essa é uma meta ambiciosa, que exige políticas eficazes e abrangentes, em contraste com as medidas fragmentadas do passado.

Embora os jovens geralmente tragam seu entusiasmo, energia e ambição, bem como maior capacidade e conhecimento em sistemas de tecnologia da informação do que a geração mais velha, eles enfrentam enormes obstáculos para iniciar carreira no agronegócio, carentes de recursos de terra, capital, ativos e acesso a oportunidades financeiras. As mulheres jovens costumam ser mais desfavorecidas do que os homens.

Projeto Care oferece políticas que geram sucesso para jovens no agronegócio

Kanayo F. Nwanze

Nos meses que antecederam o surgimento do coronavírus, o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), sem fins lucrativos, lançou um projeto de três anos na África Subsaariana, que tem o objetivo de construir nosso entendimento sobre a redução da pobreza, impacto no emprego e fatores que influenciam o engajamento dos jovens no agronegócio e em economias agrícolas rurais e não agrícolas.

O projeto Melhoria da Capacidade de Aplicação de Evidências de Pesquisa (Care), do IITA, financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), ofereceu 80 bolsas de pesquisa para jovens acadêmicos africanos, com ênfase em profissionais do sexo feminino e estudantes que desejam obter um mestrado ou doutorado. Os beneficiários recebem treinamento em metodologia de pesquisa, gestão de dados, comunicação científica e redação científica, e na produção de evidências de pesquisa para a formulação de políticas em linha com o mandato do IITA, de gerar inovações agrícolas para atender aos desafios mais urgentes da África.

Por meio do Care, vozes jovens e autorizadas estão sendo trazidas para a mesa de formulação de políticas. Sem medo de desafiar suposições, a pesquisa de jovens sobre jovens está destacando caminhos para quebrar o círculo vicioso em que estão presos.

Dadirai P. Mkombe, uma pesquisadora do Malawi, investigou o papel que o investimento direto desempenha no emprego jovem na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), concluindo que são necessárias políticas macroeconômicas para encorajar no longo prazo o crescimento, mesmo alavancado pela dívida externa. O investimento estrangeiro direto é essencial para a criação de empregos, diz ela, enquanto adverte que são necessários mais investimentos verdes do que fusões e aquisições.

Em Benin, Rodrigue Kaki investigou o que motiva o empreendedorismo no agronegócio entre graduados de faculdades e universidades de agricultura. Ao constatar que poucos alunos podem optar pelo trabalho autônomo no agronegócio, ele recomenda programas para iniciá-los precocemente, com ações que incentivem os alunos ao trabalho autônomo, como a criação de clubes de empreendedorismo em agronegócio em faculdades de agricultura e universidades.

Motivação também foi um tema para Cynthia Mkong, que pesquisou estudantes universitários que optaram pela agricultura em Camarões. Entre suas descobertas está a necessidade de uma mudança de mentalidade, começando na escola, onde educadores e mentores devem destacar tendências positivas e oportunidades emergentes no setor. Além disso, construir e implementar políticas eficazes para melhorar os níveis de educação para meninas e a renda familiar em todos os níveis ajudaria a renovar o interesse cada vez menor dos jovens pela agricultura. Suas descobertas indicam que a agricultura crescerá tanto como campo de estudo quanto como ocupação.

Também em Camarões, Djomo Choumbou Raoul Fani concentrou sua pesquisa nas contribuições e na competitividade das jovens agricultoras de grãos e no desemprego e subemprego rural, especialmente entre as mulheres jovens. Entre suas recomendações estão a necessidade de políticas cegas ao gênero e informações positivas em relação ao gênero, para garantir que o investimento público em crédito agrícola, comercialização de alimentos, estradas e escolas seja usado de forma construtiva pelas jovens agricultoras.

Esses poucos exemplos de políticas, entre muitos outros produzidos até agora, ilustram como os pesquisadores, com jovens profissionais do sexo feminino bem representadas, estão prontos para desafiar suposições e estereótipos para mostrar o caminho a seguir. Em um relatório, o Fida (https://www.ifad.org/en/youth) também enfatizou que moldar as economias rurais do amanhã deve envolver os jovens para ter sucesso.

Com a população mais jovem e de crescimento mais rápido do mundo, as comunidades ainda predominantemente rurais da África continuarão a crescer, assim como as cidades. O esforço do IITA para aumentar a percepção do agronegócio permitirá que os jovens vejam nele um futuro. O projeto Care já está produzindo pesquisas baseadas em evidências, necessárias para as comunidades africanas construírem segurança alimentar e resiliência. Os formuladores de políticas não podem operar no vácuo. O envolvimento dos jovens é a chave.

Victor Manyong é economista agrícola, diretor R4D para a África Oriental e líder do grupo de pesquisa em ciências sociais do IITA.

Kanayo F. Nwanze é representante especial do Conselho de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) na Cúpula de Sistemas Alimentares da Organização das Nações Unidas e ex-presidente do Fida.

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Por Joaquín Roy*, IPS (Inter Press Service) –

MIAMI, 29 de outubro de 2020 (IPS) – Para a Europa, região mais próxima da cultura e da tradição política dos Estados Unidos, o clima no dia seguinte às eleições presidenciais pode ser muito diferente daquele assumido a priori dependendo do veredicto .

Acredita-se que, segundo pesquisas e opiniões esporádicas expressas em artigos analíticos e declarações diretas de lideranças, o apoio à vitória democrata é majoritário. Este sentimento também é compartilhado por uma maioria das opiniões do mundo extra europeu, denominado “liberal-democrático”.

Embora não se possa dizer que o sentimento seja universal, também se acredita que é escasso o apoio de regimes autoritários à reeleição do presidente Donald Trump, com as poucas exceções de alguns líderes que de algumas potências ousaram proferir julgamentos escandalosos.

Portanto, não está claro que, com exceção da Rússia e do Brasil, o autoritarismo do resto do planeta seja um endosso do atual ocupante da Casa Branca.

Portanto, se esse desejo, frequentemente aludido por justiça, de que os cidadãos do resto do mundo merecem participar da eleição do presidente dos Estados Unidos, pode-se dizer, especialmente no que diz respeito à Europa, que um triunfo Joe Biden e Kamala Harris seriam recebidos com fogos de artifício.

Também não está claro se esses estranhos “eleitores” estão cientes de como seria o novo governo dos Estados Unidos e se responderia aos seus interesses.

Nem é fácil saber antes do plebiscito que tipo de governo nos Estados Unidos atende aos desejos da Europa.

A razão desta indecisão deve-se predominantemente à persistência do estereótipo de que esta realidade complexa se projeta na Europa do outro lado do Atlântico. Se este diagnóstico é generalizado ao longo do tempo, o é ainda mais hoje, levando-se em consideração as mudanças sísmicas que a própria sociedade norte-americana sofreu.

Estes foram enterrados por muito tempo e de repente emergiram dramaticamente para a surpresa de muitos cidadãos, com exceção do grupo de eleitores que elevou Trump à presidência em 2016 e que teimosamente persiste em mantê-lo no pedestal.

A América não é mais a nação imaginada (todas as nações são “imaginadas”, como propôs Benedict Anderson). A mística e a liberdade de expressão da Normandia que triunfaram quando o The New York Times e a imprensa liberal que derrubou Richard Nixon (1969-1974) domesticaram George W. Bush (2001-2009) não funcionam mais da mesma maneira .

Mas, ao mesmo tempo, ele se sentia impotente para deter a loucura no Iraque, assim como anos antes ele estava sem palavras diante da tragédia no Vietnã. Ninguém mais acredita no “fim da história”, imagem efetiva do então respeitado “estudioso”, Francis Fukuyama, quando rotulou o fim da Guerra Fria como o soterramento das ideologias que competiam no mercado com a democracia liberal.

Muitos estudiosos riram silenciosamente, ficando sem trabalho intelectual.

Mas a história enterrada não só sobreviveu graças à sobrevivência do abuso, da pobreza e da desigualdade. Trump vendeu muito bem a existência dos males dos Estados Unidos, atribuídos aos imigrantes, o chamado “socialismo” e o maléfico liberalismo. Tínhamos que “tornar a América ótima novamente”.

Agora, ele terminou sua reunião especial com um “hat-trick” (marcando três gols em um jogo de futebol) ao nomear três juízes conservadores para o Supremo Tribunal Federal. Anteriormente, ele havia realizado a façanha de colocar de forma sistemática e silenciosa dezenas de magistrados vitalícios nas instâncias judiciais imediatamente abaixo.

A neutralidade do terceiro poder foi questionada por uma longa geração, pelo menos até a morte de todos os juízes republicanos que, levando em conta a idade do último magistrado, irão percorrer um longo caminho.

Se a vitória de Biden ocorrer, o setor majoritário dos democratas que o apoiará terá realizado um feito em face do medo, da inquietação e da ascensão de demônios que supostamente teriam desaparecido.

Mas essa vitória também pode ser atribuída não só ao seu comportamento autoritário durante os quatro anos no poder, mas também, em grande parte, aos seus erros na administração de uma política eficaz de combate à pandemia.

Ironicamente, portanto, Trump terá sido derrotado não pela oposição política democrática, mas também pela ação “divina”.

A pandemia covid-19 terá agido como aqueles vírus medievais malignos enviados pelo diabo, dizimando a população, e castigou o tirano. Não vai ser uma conclusão confortável. Essa “ajuda” com a pandemia vai cobrar seu preço na nova era Biden-Harris. O casamento sobrevivente feito do vírus e Trump planejará sua vingança.

Enquanto isso, o novo governo terá que enfrentar novos cavaleiros do apocalipse: uma economia despedaçada, uma dívida enorme, a vingança da ultradireita, o ressentimento policial, a frustração persistente de negros e minorias e um retorno ao resistência a uma determinada abertura econômica, que foi uma marca da política democrática.

A América de Biden, pressionada por uma reconstrução urgente, pode optar por um comportamento ambivalente em relação ao envolvimento estrangeiro. “America First” permanecerá latente com Biden.

No mínimo, os democratas podem se contentar com o restabelecimento do internacionalismo, a recuperação do bom nome (a essência dos Estados Unidos ainda tem valor na Wall Street política), integração regional moderada, acordos de controle de armas , os acordos a favor da luta contra as mudanças climáticas e a luta contra o narcotráfico e o crime internacional.

A comunidade internacional ainda pode confiar nos Estados Unidos.

Em contrapartida, no caso de uma reeleição de Trump, ela pode se agravar, não só no território nacional, mas também no spillover que ocorre, racismo, violência, corrupção, pobreza e desigualdade.

O “fim da história” pode significar o início de outra história, com o desaparecimento dos Estados Unidos do mapa construído desde 1945, que paradoxalmente terá sido substituído por um planeta inusitado.

Seria como aquela cena aterrorizante dos melhores filmes de Hollywood com as ruas cheias de carros destruídos, os habitantes sobreviventes competindo pelo resto da comida disponível e os macacos assistindo a cena do topo dos arranha-céus rachados.

Imagem de destaque: Imagem de Arek Socha por Pixabay

*Este é um artigo de opinião de Joaquín Roy é Professor Jean Monnet e Diretor do Centro para a União Europeia da Universidade de Miami.

jroy@miami.edu

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Agricultura de gênero para que as mulheres assumam a liderança na alimentação da África https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/10/ultimas-noticias/agricultura-de-genero-para-que-as-mulheres-assumam-a-lideranca-na-alimentacao-da-africa/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/10/ultimas-noticias/agricultura-de-genero-para-que-as-mulheres-assumam-a-lideranca-na-alimentacao-da-africa/#respond Mon, 12 Oct 2020 14:15:11 +0000 http://www.ipsnoticias.net/portuguese/?p=22809 Rhoda Tumusiime é membro do Conselho do IITA e ex-comissária para Economia Rural e Agricultura da União Africana.

Steven Cole, cientista sênior e coordenador de pesquisa de gênero do IITA.
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IBADAN, Nigéria, 12 de outubro de 2020 (IPS) – As esperanças da África de alimentar uma população projetada para dobrar até 2050, em meio a um agravamento da crise climática, baseiam-se em enormes investimentos na agricultura, incluindo a criação de condições para que as mulheres possam se empoderar e liderar esforços para transformar o paisagem agrícola do continente.

Agricultura de gênero para que as mulheres assumam a liderança na alimentação da África

Rhoda Tumusiime

Ao celebrarmos o Dia Internacional das Mulheres Rurais de 2020, a África precisa refletir mais sobre o papel que as mulheres desempenham na segurança alimentar e nutricional, na gestão da terra e da água. Além disso, o impacto da Covid-19 sobre a capacidade das mulheres de fornecer alimentos para suas famílias e cuidar de seus entes queridos ressalta a importância de fortalecer suas capacidades por meio do planejamento de ações sensíveis ao gênero.

Sabemos que o mundo possui a tecnologia e os recursos para erradicar a fome, mas encontrar as políticas certas e a vontade de implementá-las muitas vezes nos foge. Felizmente, jovens mulheres e homens, que realizam pesquisas baseadas em evidências na África Subsaariana, estão apresentando algumas respostas possíveis sobre como lidar com essas questões urgentes. Trabalhando com o apoio e orientação do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), uma organização sem fins lucrativos de pesquisa para o desenvolvimento, esses pesquisadores têm como objetivo facilitar soluções agrícolas para a fome, a pobreza e a degradação dos recursos naturais em linha com os objetivos do IITA e, particularmente, sua estratégia de pesquisa de gênero.

Mais de 60% de todas as mulheres empregadas na África Subsaariana trabalham na agricultura e que as mulheres produzem até 80% dos alimentos para consumo doméstico e venda nos mercados locais. No entanto, essas agricultoras estão em desvantagem por uma série de fatores, como leis, políticas, programas de desenvolvimento cegos ao gênero e normas arraigadas e desequilíbrios de poder dentro e fora de suas casas e comunidades.

As restrições fundamentais de gênero definem claramente como mulheres e homens estão envolvidos e beneficiam-se dos sistemas agrícolas alimentares. Manifestadas como normas de gênero, atitudes e relações de poder prejudiciais, elas têm um impacto particular sobre como as mulheres jovens participam de cadeias de valor ou têm acesso a recursos como a terra, bem como seu poder na tomada de decisão sobre como o dinheiro ganho com seu trabalho é gasto.

Agricultura de gênero para que as mulheres assumam a liderança na alimentação da África

Steven Cole

As políticas cegas ao gênero e as intervenções de desenvolvimento não levam em consideração os diferentes papéis e necessidades diversas de homens e mulheres, enquanto as políticas acomodatícias ao gênero confirmam que existem restrições de gênero, mas podem propor maneiras de contorná-las em benefício das mulheres. A estratégia de pesquisa de gênero do IITA traz à tona as causas subjacentes das desigualdades de gênero, para informar e orientar políticas que abordem essas causas com intervenções que reduzam a pobreza e aumentem a igualdade de gênero em países de baixa renda, com aumento de oportunidades de emprego e segurança econômica, alimentar e nutricional.

Nos meses anteriores ao surgimento do coronavírus e com financiamento do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), o IITA lançou 80 bolsas de pesquisa para jovens acadêmicos africanos, com ênfase em jovens profissionais e estudantes do sexo feminino, que tivessem como objetivo obter um mestrado ou doutorado. Os bolsistas recebem treinamento em metodologia de pesquisa, gerenciamento de dados, redação científica e produção de evidências de pesquisa para a formulação de políticas.

Conhecido como Care (Enhancing Capacity to Apply Research Evidence), o projeto de três anos tem a meta de desenvolver nosso entendimento sobre a redução da pobreza, o impacto do emprego e os fatores que influenciam o engajamento dos jovens no agronegócio e nas economias agrícolas e não agrícolas. Alcançar esses resultados de desenvolvimento requer trabalhar com grupos de múltiplas partes interessadas em vários níveis, para transformar relações de poder desiguais entre jovens mulheres e homens em várias instituições sociais, incluindo no lar, na comunidade, no mercado e no Estado.

No sul do Benin, a estudante de graduação Grace Chabi investigou por que os jovens empresários agrícolas são predominantemente homens. Entre suas recomendações de políticas, está um apelo para remover os preconceitos de gênero na propriedade da terra, na concessão de crédito e nas práticas de emprego. As políticas também devem facilitar as redes de agroempresários femininos e direcionar o financiamento para os agronegócios pertencentes a mulheres.

A pesquisa de Akinyi Sassi, na Tanzânia, descobriu como os estereótipos podem afetar negativamente as intenções das mulheres de usar as tecnologias de informação e comunicação (TIC) para acessar informações do mercado agrícola, mas que, ao contrário de tal estereótipo, as agricultoras foram mais fortemente influenciadas do que os homens por sua percepção do valor de usar telefones para encontrar essas informações. Esses fatores de gênero podem ser considerados ao promover o uso das TIC.

Cynthia Mkong, de Camarões, examinou a questão dos modelos de comportamento, condição social e experiência anterior para determinar por que alguns alunos têm maior probabilidade de escolher a agricultura como curso universitário. Quase 25% das mulheres jovens em Camarões estão desempregadas, em comparação com 11% dos homens jovens. A construção de políticas eficazes para melhorar a educação das meninas e a renda familiar em todos os níveis poderia reverter o declínio do interesse dos jovens pela agricultura.

Adedotun Seyingbo examinou o emprego entre os jovens nigerianos e como o gênero e outras questões, incluindo o acesso à terra, influenciam a forma como mais jovens permanecem em empregos não agrícolas em vez de em empregos agrícolas.

Também na Nigéria, Oluwaseun Oginni analisou a migração rural-urbana e descobriu que 43% dos jovens migrantes são mulheres. Um futuro melhor, oportunidades educacionais e casamento são alguns dos motivos pelos quais as jovens estão deixando as áreas rurais.

Adella Ng’atigwa examinou como capacitar os jovens para reduzir as perdas pós-colheita da horticultura na Tanzânia e descobriu que as mulheres têm menos perdas, pois estão mais envolvidas na produção e comercialização de vegetais e são mais capazes de lidar com safras perecíveis.

Todos esses projetos de pesquisa também ilustram a estratégia de pesquisa de gênero do IITA, usando o que é conhecido como “lente interseccional”. Isso significa um exame de profundas desigualdades, às vezes violentas e sistemáticas, que se cruzam: como pobreza, racismo, sexismo, negação de direitos e oportunidades e diferenças geracionais. Desta forma, as conexões entre todas as lutas por justiça e igualdade de oportunidades são iluminadas.

Uma abordagem transformadora de gênero adotada pelo IITA visa a abordar as causas profundas das desigualdades de gênero para uma mudança mais sustentável e significativa para jovens de ambos os sexos. Com essas mudanças, a África, com a população mais jovem e de crescimento mais rápido do mundo, estará mais bem equipada para lidar com seus desafios futuros, com as mulheres na linha de frente.

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Migração de jovens prejudica a agricultura do Malauí https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/08/ultimas-noticias/migracao-de-jovens-prejudica-a-agricultura-do-malaui/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/08/ultimas-noticias/migracao-de-jovens-prejudica-a-agricultura-do-malaui/#respond Wed, 12 Aug 2020 09:53:58 +0000 http://www.ipsnoticias.net/portuguese/?p=22799

DISTRITO DE CHIRADZULU / BLANTYRE, Malauí, 12 de agosto de 2020 (IPS) – Enquanto as famílias no distrito de Chiradzulu, no sul do Malauí, começam a preparar suas fazendas para a próxima temporada de cultivo de milho, Frederick Yohane, 24,… Continue Reading

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DISTRITO DE CHIRADZULU / BLANTYRE, Malauí, 12 de agosto de 2020 (IPS) – Enquanto as famílias no distrito de Chiradzulu, no sul do Malauí, começam a preparar suas fazendas para a próxima temporada de cultivo de milho, Frederick Yohane, 24, é um jovem ocupado. Todas as manhãs, ele trabalha com seus dois irmãos no campo da família, onde cultivam milho e feijão guandu. À tarde, ele lavra fazendas de outras pessoas, para arrecadar dinheiro para suas necessidades e sustentar sua família.

Duas vezes por semana, ele vai de bicicleta aos mercados próximos para vender as galinhas que compra nas aldeias vizinhas. Essa tem sido sua vida desde os 16 anos, quando seu pai sofreu um derrame que paralisou sua perna e braço esquerdos. Yohane terminou o ensino médio em 2014, dois anos depois que seu pai adoeceu. Mas ele não passou nos exames finais.

Sem um certificado de conclusão da escola, ele seguiu a rota de muitos jovens neste distrito rural, que viajam para Blantyre, a capital comercial de Malauí, em busca de empregos, principalmente, como assistentes em lojas asiáticas ou como vendedores ambulantes. “Por meio de um amigo, encontrei trabalho em uma loja de ferragens de um indiano. Mas o dinheiro não era bom em comparação com o que eu ganhava na aldeia. Então, só trabalhei dois meses e voltei”, contou à IPS.

Yohane não planeja voltar à cidade para procurar emprego. Ele acredita que pode ganhar mais dinheiro na aldeia se trabalhar mais. “Além disso, eu sou o filho mais velho. Meu pai não pode mais trabalhar. Minha mãe passa muito tempo cuidando de nosso pai. Somos nós três, eu e meus irmãos, trabalhando no campo”, explicou.

A família de Yohane é uma das milhões no Malauí que depende da mão de obra familiar para suas fazendas. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) afirma, em seu folheto informativo sobre pequenas fazendas familiares no Malauí, que os agricultores representam 80% da população total de 17,5 milhões do país. Dessa população de agricultores, cerca de 75% são de pequenas propriedades familiares, que dependem da mão de obra familiar.

No entanto, como o resto da África, o Malauí sofre uma alta taxa de migração rural, principalmente por jovens que buscam uma vida melhor nas cidades. Quando os jovens, que constituem a maioria da população do país, migram para os centros urbanos, a produtividade da agricultura familiar diminui, de acordo com os resultados de um estudo encomendado pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) no Malauí, em 2018, no âmbito do seu programa Melhoria da Capacidade de Aplicação de Evidências de Pesquisa (Care), da Política de Participação Juvenil no Agronegócio e Atividades Econômicas Rurais na África.

No âmbito do programa Care, o IITA está trabalhando com jovens pesquisadores na África, para promover a compreensão do impacto da redução da pobreza, e os fatores que influenciam o envolvimento dos jovens no agronegócio e na economia rural e não agrícola, disse à IPS Timilehin Osunde, oficial de comunicações do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) para o Projeto Care na Nigéria.

No estudo Care do Malauí, o investigador Emmanuel Tolani entrevistou agregados familiares nos distritos de Zomba e Lilongwe, ambos conhecidos por sua alta produção de milho, a cultura básica do país. O estudo centrou-se nos lares onde os jovens migraram para os centros urbanos, em comparação com aqueles onde os jovens não se mudaram.

De acordo com o Resumo de Política resultante, intitulado Juventude em Movimento: Efeitos do Bem-Estar nas Famílias de Origem, a pesquisa descobriu que as famílias com jovens que migraram para os centros urbanos estavam produzindo cada uma 13 sacas de 50 quilos a menos do que poderiam colher se os jovens não tivessem migrado.

“Isso pode ser atribuído ao fato de que a migração de jovens membros da família estava levando à perda de produção agrícola, porque a mão de obra deles não era compensada pela contratação de trabalhadores com as remessas recebidas”, aponta o comunicado.

Resumindo, Tolani recomendou a introdução de atividades geradoras de renda entre as famílias rurais, para reduzir a necessidade de buscarem outros meios de diversificar suas rendas, como estimular a migração de jovens. Osunde destacou que a falta de um ambiente adequado para o agronegócio, a busca por oportunidades educacionais e acesso a serviços e recursos estão entre os fatores para a tendência de jovens rurais deixarem suas casas e irem para os centros urbanos na África.

Ao longo dos anos, o Malauí elaborou e implementou programas destinados a melhorar as condições sociais e econômicas das áreas rurais, o que poderia reduzir a migração. No entanto, essa migração para as cidades não diminuiu. A Comissão Nacional de Planejamento do Malauí atribui isso ao que diz serem “inconsistências de implementação de políticas entre regimes políticos”.

Esse argumento teve grande destaque nas discussões sobre desenvolvimento no Malauí, de modo que motivou o estabelecimento da Comissão Nacional de Planejamento. Estabelecido por meio de uma Lei do Parlamento em 2017, o mandato da Comissão é garantir a continuidade das políticas de desenvolvimento nas administrações políticas.

Por outro lado, Osunde observou que muitos programas de desenvolvimento rural na África fracassaram porque são elaborados por formuladores de políticas sem a contribuição da juventude rural. “Muitas vezes são implementados com uma abordagem de cima para baixo, em vez de uma abordagem de baixo para cima”, opinou à IPS.

Para apoiar os governos africanos na contenção da onda de migração rural de jovens, o IITA está implementando uma série de programas específicos para a agricultura, além do Care. Por exemplo, o Programa Start Them Early (Step) tem o objetivo de mudar a mentalidade dos jovens nas escolas primárias e secundárias, fornecendo-lhes conhecimentos básicos em agricultura para direcioná-los para carreiras relacionadas com a agricultura, explicou Osunde.

O IITA também está implementando o projeto Enable Youth, que oferece oportunidades para jovens subempregados, motivando-os a estabelecer empresas agrícolas e melhorar suas habilidades no agronegócio. “O programa ajuda a criar um ambiente de negócios favorável, ao promover políticas lideradas por jovens, e oferece uma rede de comunicação que fornece informações agrícolas muito necessárias para jovens envolvidos no agronegócio”, detalhou Osunde.

Além disso, o IITA Youth Agripreneurs visa a mudar as percepções dos jovens africanos sobre a agricultura, para verem que ela pode ser excitante e economicamente compensadora.

“Com a agricultura na África em grande parte sofrendo de percepções negativas entre os jovens, devido ao trabalho enfadonho envolvido, ganhos financeiros insuficientes e uma escassez de infraestrutura básica, o programa de jovens implementado pelo IITA busca mudar a percepção entre os jovens na África, criando recursos que podem capacitá-los a começar como agroempresários no continente. São programas específicos para a agricultura que o Malauí pode adotar para atrair os jovens para o agronegócio”, ressaltou Osunde à IPS.

O diretor-geral da Comissão de Planejamento Nacional, Thomas Munthali, explicou que atualmente estão mapeando o país em zonas com potencial de investimento para projetos financiáveis, que podem levar à redução da migração de jovens.

“A ideia é criar cidades secundárias nessas zonas, com base no potencial de terras para agricultura, mineração e turismo. Essas serão transformados em centros industriais que oferecerão empregos decentes e sustentáveis e facilidades socioeconômicas, assim como nas cidades”, enfatizou Munthali.

Enquanto os jovens rurais no Malauí esperam por tais programas, Yohane já decidiu ficar na aldeia. E ele está sonhando grande. “Colhemos milho suficiente para a nossa alimentação. Mas precisamos ganhar dinheiro. Portanto, estamos planejando alugar outro terreno este ano, onde poderemos plantar mais milho para venda. Não precisamos de mão de obra contratada. No futuro, queremos ver se podemos comprar mais terras nas quais possamos fazer uma agricultura comercial séria”, revelou.

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Eletrificação de transportes: um desafio para a América Latina urbanizada https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/07/ultimas-noticias/eletrificacao-de-transportes-um-desafio-para-a-america-latina-urbanizada-2/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/07/ultimas-noticias/eletrificacao-de-transportes-um-desafio-para-a-america-latina-urbanizada-2/#respond Wed, 15 Jul 2020 02:17:56 +0000 https://envolverde.com.br/?p=241955 Por Mario Osava, IPS –  RIO DE JANEIRO, 13 de julho de 2020 (IPS) – O transporte elétrico, ainda limitado na América Latina, apesar de seus benefícios urbanos, pode se expandir durante a recuperação econômica pós-pandemia, diz Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). Se houver grandes investimentos na necessária reativação da economia, eles devem fazer parte de “uma transição para uma economia verde, em uma agenda para o futuro”, como alguns países europeus já decidiram, disse Maluf, que também é diretor de Brasil da empresa chinesa BYD, maior fabricante mundial de veículos 100% elétricos. “A transição para a mobilidade elétrica movida a energia limpa está começando a gerar um interesse crescente entre os governos e também entre os cidadãos”, observa o relatório “Mobilidade elétrica 2019: status e oportunidades de colaboração regional na América Latina e no Caribe”, divulgado em espanhol em 2 de julho pela ONU Meio Ambiente. Isso se reflete no “surgimento de diferentes grupos da sociedade civil dedicados a esse setor e compostos por entusiastas, adotantes e empreendedores”, segundo o relatório, que aponta para um impulso maior no transporte público nos 20 países estudados. Em uma região que se urbanizou rapidamente, com 80% da população vivendo em áreas urbanas e onde o número de grandes cidades subiu, os veículos elétricos estão melhorando o meio ambiente, o transporte, a qualidade de vida e a saúde coletiva, além de abrir novas possibilidades econômicas e geração de empregos e inovações tecnológicas. O transporte é responsável por 22% das emissões da região de poluentes climáticos de curta duração e 15% dos gases de efeito estufa, de acordo com o relatório do escritório regional da agência, também conhecido como Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A eletrificação de 100% do transporte urbano impediria 180.117 mortes de 2019 a 2050 na Cidade do México, 207.672 em Buenos Aires e 13.003 em Santiago, eliminando os gases e o material particulado emitido por veículos convencionais, estima o relatório. A eficiência da eletricidade, muito superior à dos combustíveis fósseis nos veículos, oferece uma grande vantagem econômica a médio prazo. O veículo elétrico é mais caro por causa da bateria, que pode custar quase metade do total de um ônibus que pode percorrer 200 quilômetros sem recarregar, disse Iêda de Oliveira, diretora executiva da Eletra, empresa de ônibus elétricos fundada em 1988 em São Bernardo do Campo, perto da metrópole brasileira de São Paulo. A diferença de preço, ela disse à IPS por telefone, é recuperada em poucos anos devido à economia de energia e manutenção, uma vez que os motores elétricos têm menos peças e se desgastam menos. As vantagens econômicas são acentuadas em países que, como o Chile, dependem de petróleo importado e, portanto, sofrem os efeitos de oscilações internacionais de preços e flutuações nas taxas de câmbio. O Chile se destaca na eletrificação de seu transporte urbano. A Rede Metropolitana de Mobilidade de Santiago tinha 386 ônibus elétricos até o final de 2019. Haverá quase 800 até o […]

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Por Mario Osava, IPS – 

RIO DE JANEIRO, 13 de julho de 2020 (IPS) – O transporte elétrico, ainda limitado na América Latina, apesar de seus benefícios urbanos, pode se expandir durante a recuperação econômica pós-pandemia, diz Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).

Se houver grandes investimentos na necessária reativação da economia, eles devem fazer parte de “uma transição para uma economia verde, em uma agenda para o futuro”, como alguns países europeus já decidiram, disse Maluf, que também é diretor de Brasil da empresa chinesa BYD, maior fabricante mundial de veículos 100% elétricos.

Iêda de Oliveira está ao volante de um dos ônibus fabricados pela empresa que lidera, a Eletra, pioneira em ônibus elétricos e híbridos no Brasil. Lamenta que o Brasil, devido à falta de políticas públicas adequadas, tenha perdido o mercado externo de ônibus e parte do mercado interno para a China, depois de ter sido um grande exportador de ônibus para a América Latina e outras regiões. CRÉDITO: Cortesia de Eletra

“A transição para a mobilidade elétrica movida a energia limpa está começando a gerar um interesse crescente entre os governos e também entre os cidadãos”, observa o relatório “Mobilidade elétrica 2019: status e oportunidades de colaboração regional na América Latina e no Caribe”, divulgado em espanhol em 2 de julho pela ONU Meio Ambiente.

Isso se reflete no “surgimento de diferentes grupos da sociedade civil dedicados a esse setor e compostos por entusiastas, adotantes e empreendedores”, segundo o relatório, que aponta para um impulso maior no transporte público nos 20 países estudados.

Em uma região que se urbanizou rapidamente, com 80% da população vivendo em áreas urbanas e onde o número de grandes cidades subiu, os veículos elétricos estão melhorando o meio ambiente, o transporte, a qualidade de vida e a saúde coletiva, além de abrir novas possibilidades econômicas e geração de empregos e inovações tecnológicas.

O transporte é responsável por 22% das emissões da região de poluentes climáticos de curta duração e 15% dos gases de efeito estufa, de acordo com o relatório do escritório regional da agência, também conhecido como Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

A eletrificação de 100% do transporte urbano impediria 180.117 mortes de 2019 a 2050 na Cidade do México, 207.672 em Buenos Aires e 13.003 em Santiago, eliminando os gases e o material particulado emitido por veículos convencionais, estima o relatório.

A eficiência da eletricidade, muito superior à dos combustíveis fósseis nos veículos, oferece uma grande vantagem econômica a médio prazo.

Um ônibus fabricado pela BYD, empresa chinesa fundada em 1995 que logo se tornou uma potência na produção de baterias recarregáveis, ônibus elétricos, carros e painéis solares. No Brasil, a empresa instalou-se na cidade de Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo. Sua produção é focada em energia limpa e transporte. CRÉDITO: Cortesia de BYD Brasil

O veículo elétrico é mais caro por causa da bateria, que pode custar quase metade do total de um ônibus que pode percorrer 200 quilômetros sem recarregar, disse Iêda de Oliveira, diretora executiva da Eletra, empresa de ônibus elétricos fundada em 1988 em São Bernardo do Campo, perto da metrópole brasileira de São Paulo.

A diferença de preço, ela disse à IPS por telefone, é recuperada em poucos anos devido à economia de energia e manutenção, uma vez que os motores elétricos têm menos peças e se desgastam menos.

As vantagens econômicas são acentuadas em países que, como o Chile, dependem de petróleo importado e, portanto, sofrem os efeitos de oscilações internacionais de preços e flutuações nas taxas de câmbio.

O Chile se destaca na eletrificação de seu transporte urbano. A Rede Metropolitana de Mobilidade de Santiago tinha 386 ônibus elétricos até o final de 2019. Haverá quase 800 até o final de 2020. BYD (Build Your Dreams) é o maior fornecedor de ônibus elétricos no Chile, Maluf disse à IPS por telefone de São Paulo.

Além disso, o Chile estabeleceu uma meta de eletrificar toda a sua frota de transporte público e 40% do transporte privado até 2050, como parte da Estratégia Nacional de Eletromobilidade aprovada em 2016.

A Colômbia também se destaca, com 483 ônibus elétricos em operação ou encomendados em Bogotá e outros 90 nas cidades de Cali e Medellín até o final de 2019. A meta nacional para 2030 é ter 600.000 veículos elétricos de todos os tipos, segundo o PNUMA relatório.

Costa Rica e Panamá são outros países da região que adotaram planos nacionais de mobilidade elétrica. Argentina, México e Paraguai estão elaborando suas próprias estratégias.

 O Dual Bus é uma inovação desenvolvida pela empresa brasileira Eletra, que tem a vantagem de adicionar mais flexibilidade ao barramento elétrico, que pode operar em duas configurações: como híbrido ou trólebus (com eletricidade fornecida por fios aéreos) e híbrido ou puro elétrica (bateria). No híbrido, a eletricidade é gerada internamente por um motor diesel. CRÉDITO: Cortesia de Eletra

O Brasil, que poderia liderar esse processo mesmo como fabricante de veículos elétricos, está “atrasado” em eletrificação, disse Maluf, acrescentando que “a BYD vendeu 1045 ônibus na América Latina em 2019, apenas quatro por cento dos quais foram para o Brasil”.

“O Chile é um exemplo disso; já era um grande importador de ônibus convencionais da indústria brasileira ”, disse Oliveira, que lidera o Grupo de Veículos Pesados ​​da ABVE, além de liderar a Eletra. “Por causa da miopia, o Brasil perdeu o mercado latino-americano para a China.

“Precisamos de uma política pública de transporte elétrico, que não seja apenas uma questão ambiental, mas também econômica, porque o Brasil pode ser um líder, dada a nossa grande frota, nossa indústria nacional de peças de reposição e nossa tecnologia nacional”, disse ela.

Objetivos claros, financiamento disponível, tributação mais favorável que leve em conta benefícios ambientais, sociais e de saúde, incentivos à produção local de baterias e expansão da infraestrutura de recarga devem fazer parte dessa política, disse Oliveira.

Depender de baterias importadas provou ser uma armadilha. De repente, eles se tornaram escandalosamente caros devido à desvalorização de 35% da moeda brasileira, o real, este ano, apontou.

Para ela, a corrida por baterias de maior capacidade não é o único caminho a seguir. Outra opção é criar mais estações de carregamento e usar baterias menores. “Expandir a infraestrutura e usar baterias menores faz mais sentido, se você puder carregá-las com mais frequência”, disse Oliveira.

Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos e diretor de marketing e sustentabilidade da BYD Brasil, subsidiária da empresa chinesa que é o maior produtor mundial de ônibus elétricos e um dos maiores fabricantes de baterias e painéis solares, espera que a conscientização pública sobre meio ambiente e saúde após a pandemia do COVID-19 impulsionará a eletrificação do transporte, especialmente o transporte urbano. CRÉDITO: Cortesia de Adalberto Maluf

Maluf afirmou que alegar que não existem estações de carregamento suficientes para argumentar contra o aumento do número de veículos elétricos no Brasil não é mais justificado. Existem pelo menos duas rotas de veículos elétricos, uma na rodovia mais movimentada do país, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, e existem estações de carregamento espalhadas em outros lugares.

Além disso, as baterias podem ser carregadas rapidamente hoje, em meia hora e em apenas 15 minutos, 70% da capacidade pode ser alcançada, disse ele.

A falta de familiaridade com a tecnologia é o principal fator para conter a propagação da eletromobilidade, disse Maluf.

Há também resistência e pressão política de interesses arraigados no setor de transporte, como o setor automotivo tradicional, produtores de etanol, distribuidores de combustível e empresas de ônibus urbanos.

No entanto, a eletrificação está progredindo em diferentes áreas. Motocicletas, bicicletas e scooters elétricas estão crescendo rapidamente nas cidades que estão se adaptando a novas modalidades.

O transporte de carga também está gradualmente aderindo à nova tendência. A “reforma” de caminhões para substituir motores a diesel por motores elétricos é o novo negócio em expansão da Eletra.

No Brasil, veículos elétricos híbridos predominam.

O relatório da ONU sobre Meio Ambiente reconhece apenas 2045 veículos elétricos registrados no Brasil até outubro de 2019. Mas conta apenas com veículos elétricos plugáveis ​​e exclui híbridos que funcionam com um motor de combustão interna e um motor elétrico que utiliza energia armazenada em baterias, responsáveis ​​por mais de 90% da frota eletrificada.

As estatísticas da ABVE contam com um total de 30.092 veículos elétricos registrados de 2012 a junho de 2020. O número de veículos registrados subiu três vezes em 2019 em relação ao ano anterior, para 11.858. Os híbridos representaram 95,4% do total em 2018.

Diversidade de opções é o melhor caminho, dadas as necessidades e vantagens locais, argumentou Oliveira. Adicionar uma pequena bateria a um trólebus, por exemplo, oferece flexibilidade que reduz o custo operacional, disse ela.

Novos modelos de negócios também promovem soluções. Compartilhamento de carros, aluguel de veículos, geradores elétricos e associação de distribuidores de energia ao transporte urbano são algumas alternativas.

O modelo chileno que separa o proprietário dos ônibus dos operadores é interessante, pois atrai fundos de investimento para a compra de veículos em larga escala, a custos mais baixos e facilita soluções para conflitos, disse Maluf.

 

Traduzido por Ana Maria Vasconcellos, da Agência Envolverde

#Envolverde

 

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Eletrificação de transportes: um desafio para a América Latina urbanizada https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/07/ultimas-noticias/eletrificacao-de-transportes-um-desafio-para-a-america-latina-urbanizada/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/07/ultimas-noticias/eletrificacao-de-transportes-um-desafio-para-a-america-latina-urbanizada/#respond Wed, 15 Jul 2020 02:17:56 +0000 https://envolverde.cartacapital.com.br/?p=241955 Por Mario Osava, IPS –  RIO DE JANEIRO, 13 de julho de 2020 (IPS) – O transporte elétrico, ainda limitado na América Latina, apesar de seus benefícios urbanos, pode se expandir durante a recuperação econômica pós-pandemia, diz Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE). Se houver grandes investimentos na necessária reativação da economia, eles devem fazer parte de “uma transição para uma economia verde, em uma agenda para o futuro”, como alguns países europeus já decidiram, disse Maluf, que também é diretor de Brasil da empresa chinesa BYD, maior fabricante mundial de veículos 100% elétricos. “A transição para a mobilidade elétrica movida a energia limpa está começando a gerar um interesse crescente entre os governos e também entre os cidadãos”, observa o relatório “Mobilidade elétrica 2019: status e oportunidades de colaboração regional na América Latina e no Caribe”, divulgado em espanhol em 2 de julho pela ONU Meio Ambiente. Isso se reflete no “surgimento de diferentes grupos da sociedade civil dedicados a esse setor e compostos por entusiastas, adotantes e empreendedores”, segundo o relatório, que aponta para um impulso maior no transporte público nos 20 países estudados. Em uma região que se urbanizou rapidamente, com 80% da população vivendo em áreas urbanas e onde o número de grandes cidades subiu, os veículos elétricos estão melhorando o meio ambiente, o transporte, a qualidade de vida e a saúde coletiva, além de abrir novas possibilidades econômicas e geração de empregos e inovações tecnológicas. O transporte é responsável por 22% das emissões da região de poluentes climáticos de curta duração e 15% dos gases de efeito estufa, de acordo com o relatório do escritório regional da agência, também conhecido como Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A eletrificação de 100% do transporte urbano impediria 180.117 mortes de 2019 a 2050 na Cidade do México, 207.672 em Buenos Aires e 13.003 em Santiago, eliminando os gases e o material particulado emitido por veículos convencionais, estima o relatório. A eficiência da eletricidade, muito superior à dos combustíveis fósseis nos veículos, oferece uma grande vantagem econômica a médio prazo. O veículo elétrico é mais caro por causa da bateria, que pode custar quase metade do total de um ônibus que pode percorrer 200 quilômetros sem recarregar, disse Iêda de Oliveira, diretora executiva da Eletra, empresa de ônibus elétricos fundada em 1988 em São Bernardo do Campo, perto da metrópole brasileira de São Paulo. A diferença de preço, ela disse à IPS por telefone, é recuperada em poucos anos devido à economia de energia e manutenção, uma vez que os motores elétricos têm menos peças e se desgastam menos. As vantagens econômicas são acentuadas em países que, como o Chile, dependem de petróleo importado e, portanto, sofrem os efeitos de oscilações internacionais de preços e flutuações nas taxas de câmbio. O Chile se destaca na eletrificação de seu transporte urbano. A Rede Metropolitana de Mobilidade de Santiago tinha 386 ônibus elétricos até o final de 2019. Haverá quase 800 até o […]

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Por Mario Osava, IPS – 

RIO DE JANEIRO, 13 de julho de 2020 (IPS) – O transporte elétrico, ainda limitado na América Latina, apesar de seus benefícios urbanos, pode se expandir durante a recuperação econômica pós-pandemia, diz Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).

Se houver grandes investimentos na necessária reativação da economia, eles devem fazer parte de “uma transição para uma economia verde, em uma agenda para o futuro”, como alguns países europeus já decidiram, disse Maluf, que também é diretor de Brasil da empresa chinesa BYD, maior fabricante mundial de veículos 100% elétricos.

Iêda de Oliveira está ao volante de um dos ônibus fabricados pela empresa que lidera, a Eletra, pioneira em ônibus elétricos e híbridos no Brasil. Lamenta que o Brasil, devido à falta de políticas públicas adequadas, tenha perdido o mercado externo de ônibus e parte do mercado interno para a China, depois de ter sido um grande exportador de ônibus para a América Latina e outras regiões. CRÉDITO: Cortesia de Eletra

“A transição para a mobilidade elétrica movida a energia limpa está começando a gerar um interesse crescente entre os governos e também entre os cidadãos”, observa o relatório “Mobilidade elétrica 2019: status e oportunidades de colaboração regional na América Latina e no Caribe”, divulgado em espanhol em 2 de julho pela ONU Meio Ambiente.

Isso se reflete no “surgimento de diferentes grupos da sociedade civil dedicados a esse setor e compostos por entusiastas, adotantes e empreendedores”, segundo o relatório, que aponta para um impulso maior no transporte público nos 20 países estudados.

Em uma região que se urbanizou rapidamente, com 80% da população vivendo em áreas urbanas e onde o número de grandes cidades subiu, os veículos elétricos estão melhorando o meio ambiente, o transporte, a qualidade de vida e a saúde coletiva, além de abrir novas possibilidades econômicas e geração de empregos e inovações tecnológicas.

O transporte é responsável por 22% das emissões da região de poluentes climáticos de curta duração e 15% dos gases de efeito estufa, de acordo com o relatório do escritório regional da agência, também conhecido como Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

A eletrificação de 100% do transporte urbano impediria 180.117 mortes de 2019 a 2050 na Cidade do México, 207.672 em Buenos Aires e 13.003 em Santiago, eliminando os gases e o material particulado emitido por veículos convencionais, estima o relatório.

A eficiência da eletricidade, muito superior à dos combustíveis fósseis nos veículos, oferece uma grande vantagem econômica a médio prazo.

Um ônibus fabricado pela BYD, empresa chinesa fundada em 1995 que logo se tornou uma potência na produção de baterias recarregáveis, ônibus elétricos, carros e painéis solares. No Brasil, a empresa instalou-se na cidade de Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo. Sua produção é focada em energia limpa e transporte. CRÉDITO: Cortesia de BYD Brasil

O veículo elétrico é mais caro por causa da bateria, que pode custar quase metade do total de um ônibus que pode percorrer 200 quilômetros sem recarregar, disse Iêda de Oliveira, diretora executiva da Eletra, empresa de ônibus elétricos fundada em 1988 em São Bernardo do Campo, perto da metrópole brasileira de São Paulo.

A diferença de preço, ela disse à IPS por telefone, é recuperada em poucos anos devido à economia de energia e manutenção, uma vez que os motores elétricos têm menos peças e se desgastam menos.

As vantagens econômicas são acentuadas em países que, como o Chile, dependem de petróleo importado e, portanto, sofrem os efeitos de oscilações internacionais de preços e flutuações nas taxas de câmbio.

O Chile se destaca na eletrificação de seu transporte urbano. A Rede Metropolitana de Mobilidade de Santiago tinha 386 ônibus elétricos até o final de 2019. Haverá quase 800 até o final de 2020. BYD (Build Your Dreams) é o maior fornecedor de ônibus elétricos no Chile, Maluf disse à IPS por telefone de São Paulo.

Além disso, o Chile estabeleceu uma meta de eletrificar toda a sua frota de transporte público e 40% do transporte privado até 2050, como parte da Estratégia Nacional de Eletromobilidade aprovada em 2016.

A Colômbia também se destaca, com 483 ônibus elétricos em operação ou encomendados em Bogotá e outros 90 nas cidades de Cali e Medellín até o final de 2019. A meta nacional para 2030 é ter 600.000 veículos elétricos de todos os tipos, segundo o PNUMA relatório.

Costa Rica e Panamá são outros países da região que adotaram planos nacionais de mobilidade elétrica. Argentina, México e Paraguai estão elaborando suas próprias estratégias.

 O Dual Bus é uma inovação desenvolvida pela empresa brasileira Eletra, que tem a vantagem de adicionar mais flexibilidade ao barramento elétrico, que pode operar em duas configurações: como híbrido ou trólebus (com eletricidade fornecida por fios aéreos) e híbrido ou puro elétrica (bateria). No híbrido, a eletricidade é gerada internamente por um motor diesel. CRÉDITO: Cortesia de Eletra

O Brasil, que poderia liderar esse processo mesmo como fabricante de veículos elétricos, está “atrasado” em eletrificação, disse Maluf, acrescentando que “a BYD vendeu 1045 ônibus na América Latina em 2019, apenas quatro por cento dos quais foram para o Brasil”.

“O Chile é um exemplo disso; já era um grande importador de ônibus convencionais da indústria brasileira ”, disse Oliveira, que lidera o Grupo de Veículos Pesados ​​da ABVE, além de liderar a Eletra. “Por causa da miopia, o Brasil perdeu o mercado latino-americano para a China.

“Precisamos de uma política pública de transporte elétrico, que não seja apenas uma questão ambiental, mas também econômica, porque o Brasil pode ser um líder, dada a nossa grande frota, nossa indústria nacional de peças de reposição e nossa tecnologia nacional”, disse ela.

Objetivos claros, financiamento disponível, tributação mais favorável que leve em conta benefícios ambientais, sociais e de saúde, incentivos à produção local de baterias e expansão da infraestrutura de recarga devem fazer parte dessa política, disse Oliveira.

Depender de baterias importadas provou ser uma armadilha. De repente, eles se tornaram escandalosamente caros devido à desvalorização de 35% da moeda brasileira, o real, este ano, apontou.

Para ela, a corrida por baterias de maior capacidade não é o único caminho a seguir. Outra opção é criar mais estações de carregamento e usar baterias menores. “Expandir a infraestrutura e usar baterias menores faz mais sentido, se você puder carregá-las com mais frequência”, disse Oliveira.

Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos e diretor de marketing e sustentabilidade da BYD Brasil, subsidiária da empresa chinesa que é o maior produtor mundial de ônibus elétricos e um dos maiores fabricantes de baterias e painéis solares, espera que a conscientização pública sobre meio ambiente e saúde após a pandemia do COVID-19 impulsionará a eletrificação do transporte, especialmente o transporte urbano. CRÉDITO: Cortesia de Adalberto Maluf

Maluf afirmou que alegar que não existem estações de carregamento suficientes para argumentar contra o aumento do número de veículos elétricos no Brasil não é mais justificado. Existem pelo menos duas rotas de veículos elétricos, uma na rodovia mais movimentada do país, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, e existem estações de carregamento espalhadas em outros lugares.

Além disso, as baterias podem ser carregadas rapidamente hoje, em meia hora e em apenas 15 minutos, 70% da capacidade pode ser alcançada, disse ele.

A falta de familiaridade com a tecnologia é o principal fator para conter a propagação da eletromobilidade, disse Maluf.

Há também resistência e pressão política de interesses arraigados no setor de transporte, como o setor automotivo tradicional, produtores de etanol, distribuidores de combustível e empresas de ônibus urbanos.

No entanto, a eletrificação está progredindo em diferentes áreas. Motocicletas, bicicletas e scooters elétricas estão crescendo rapidamente nas cidades que estão se adaptando a novas modalidades.

O transporte de carga também está gradualmente aderindo à nova tendência. A “reforma” de caminhões para substituir motores a diesel por motores elétricos é o novo negócio em expansão da Eletra.

No Brasil, veículos elétricos híbridos predominam.

O relatório da ONU sobre Meio Ambiente reconhece apenas 2045 veículos elétricos registrados no Brasil até outubro de 2019. Mas conta apenas com veículos elétricos plugáveis ​​e exclui híbridos que funcionam com um motor de combustão interna e um motor elétrico que utiliza energia armazenada em baterias, responsáveis ​​por mais de 90% da frota eletrificada.

As estatísticas da ABVE contam com um total de 30.092 veículos elétricos registrados de 2012 a junho de 2020. O número de veículos registrados subiu três vezes em 2019 em relação ao ano anterior, para 11.858. Os híbridos representaram 95,4% do total em 2018.

Diversidade de opções é o melhor caminho, dadas as necessidades e vantagens locais, argumentou Oliveira. Adicionar uma pequena bateria a um trólebus, por exemplo, oferece flexibilidade que reduz o custo operacional, disse ela.

Novos modelos de negócios também promovem soluções. Compartilhamento de carros, aluguel de veículos, geradores elétricos e associação de distribuidores de energia ao transporte urbano são algumas alternativas.

O modelo chileno que separa o proprietário dos ônibus dos operadores é interessante, pois atrai fundos de investimento para a compra de veículos em larga escala, a custos mais baixos e facilita soluções para conflitos, disse Maluf.

 

Traduzido por Ana Maria Vasconcellos, da Agência Envolverde

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Futuro pós-pandemia da África precisa incluir jovens na agricultura https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/06/africa/futuro-pos-pandemia-da-africa-precisa-incluir-jovens-na-agricultura/ https://www.ipsnews.net/portuguese/2020/06/africa/futuro-pos-pandemia-da-africa-precisa-incluir-jovens-na-agricultura/#respond Mon, 29 Jun 2020 21:34:23 +0000 http://www.ipsnoticias.net/portuguese/?p=22761 Aslihan Arslan, economista sênior da Divisão de Pesquisa e Avaliação de Impacto do IFAD. Zoumana Bamba, representante nacional do IITA na República Democrática do Congo. 29 de junho de 2020 (IPS) – Avisos, nos estágios iniciais da pandemia de Covid-19,… Continue Reading

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Aslihan Arslan, economista sênior da Divisão de Pesquisa e Avaliação de Impacto do IFAD.

Zoumana Bamba, representante nacional do IITA na República Democrática do Congo.

29 de junho de 2020 (IPS) – Avisos, nos estágios iniciais da pandemia de Covid-19, de que a África poderia ser atingida por uma onda de até dez milhões de casos em seis meses, felizmente agora parecem infundados, embora ainda seja muito cedo para ser muito confiante.

Futuro pós pandemia da África precisa incluir jovens na agricultura

Aslihan Arslan

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou, em 22 de maio, que o vírus parece estar “tomando um caminho diferente” no continente, com uma taxa de mortalidade mais baixa e um aumento mais lento de casos do que em outras regiões. No entanto, três semanas depois, a entidade alertou que a pandemia estava se acelerando na África e observou que foram necessários 98 dias para atingir cem mil casos e apenas 19 dias para passar para 200 mil casos.

Em 23 de junho, a África havia registrado mais de 232 mil casos confirmados e 5.117 mortes, ainda muito menos em comparação com a Europa e as Américas. Os especialistas ainda estão analisando como a África evitou o pior, com a pobreza generalizada, os sistemas de saúde pública frágeis e a infraestrutura fraca em muitos países. Ações preventivas imediatas por parte dos governos e populações predominantemente jovens são citados como fatores importantes.

Embora devamos evitar as armadilhas da complacência e das estatísticas às vezes duvidosas, causadas em parte pela falta de testes, o perigo emergente agora é que as consequências de vida ou morte da queda econômica decorrente da pandemia serão muito mais graves que o próprio vírus. O continente africano está prestes a afundar em sua primeira recessão em 25 anos.

Analistas do Banco Mundial projetam que a África Subsaariana e a Índia sejam as duas regiões mais atingidas globalmente em termos econômicos. As últimas projeções estimam que 26 a 39 milhões de pessoas, muitas delas agricultores de subsistência, serão levadas à extrema pobreza na África Subsaariana este ano.

O presidente Paul Kagame, de Ruanda, que reagiu rapidamente para impor o bloqueio de seu país, alertou que, sem uma intervenção coordenada, algumas economias africanas podem levar “uma geração ou mais” para se recuperar.

Futuro pós pandemia da África precisa incluir jovens na agricultura

Zoumana Bamba

As cadeias de valor agrícola foram seriamente afetadas pelos bloqueios, e não apenas as culturas alimentares. A indústria de flores do Quênia, por exemplo, foi atingida pelo fechamento de mercados nos países desenvolvidos. Mais de 70 mil agricultores foram demitidos e é relatado que 50 toneladas de flores tiveram que ser descartadas a cada dia.

No curto prazo, tudo isso equivale à dupla ameaça, causada diretamente ou exacerbada pela pandemia de Covid-19, de redução de renda e grave escassez de alimentos, dado que as famílias compram cerca de 50% de seus alimentos, mesmo na zona rural africana. Além disso, enxames devastadores de gafanhotos do deserto na África Oriental – o pior surto no Quênia em 70 anos –, combinados com um ano de seca e inundações, colocaram milhões de pessoas naquela região em risco de fome e penúria.

O mais imediato dos perigos para a segurança alimentar da África é agravado pelas tendências de longo prazo das taxas de crescimento populacional e urbano mais rápidas do mundo. A população urbana da África está projetada para quase triplicar entre 2018 e 2050.

O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), da Organização das Nações Unidas, está trabalhando com governos e sociedade civil para fornecer aos jovens as habilidades e oportunidades necessárias, e criar empregos no sistema agroalimentar, a fim de salvaguardar a segurança alimentar, aliviar a pobreza e contribuir para a estabilidade social e política. Os desafios são enormes e diversos.

O Fida está, cada vez mais, concentrando seus recursos nos jovens como prioridade, uma vez que a transformação rural bem-sucedida depende de sua inclusão no processo. É uma parceria com o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), entidade sem fins lucrativos, um dos principais financiadores de um projeto de três anos na África Subsaariana, que oferece 80 bolsas de estudo para jovens africanos que cursam mestrado ou doutorado com foco em pesquisa na promoção do envolvimento dos jovens na agricultura.

Conhecido como Care (Melhoria da Capacidade de Aplicação de Evidências de Pesquisa), o programa combina orientação com treinamento em metodologia, análise de dados e redação científica, com o objetivo de produzir evidências e recomendações de pesquisa para os formuladores de políticas. Vozes jovens e competentes estão sendo levadas à mesa, aumentando a representação dos jovens nos processos domésticos e políticos.

Os resumos de políticas produzidos até o momento ilustram como pesquisadores, incluindo inúmeras jovens profissionais, estão desafiando narrativas e estereótipos comuns. Sim, a migração para fora das áreas rurais é uma tendência aparentemente imparável, mas muitos jovens ainda estão envolvidos no setor agrícola e no sistema agroalimentar, o que exige investimentos consideráveis.

Destaca-se a seguir alguns exemplos de suas descobertas recentes.

■ Adewale Ogunmodede, da Universidade de Ibadan, na Nigéria, analisa as deficiências do Programa N-Power Agro, com o objetivo de melhorar os meios de subsistência rural e argumenta que a abordagem de cima para baixo está falhando em atrair jovens para a agricultura.

■ A pesquisa de Akinyi Sassi, na Tanzânia, desafia a visão estereotipada de que as mulheres usam menos a tecnologia da informação e comunicação (TIC) que os homens para acessar dados sobre o mercado agrícola. Ela aponta que o custo do uso do telefone e a confiabilidade das informações são fatores críticos.

■ Cynthia Mkong examina a questão de modelos, status social e experiência anterior para determinar por que alguns estudantes têm mais probabilidade de escolher a agricultura como seu curso em duas universidades nos Camarões. Ela diz que suas descobertas indicam que a agricultura aumentará de estatura, tanto como um campo de estudo quanto de ocupação.

■ Grace Chabi analisa por que o envolvimento dos jovens na agricultura continua a diminuir no Benin, apesar das iniciativas do governo. Entre suas recomendações de política, há um chamado para remover os preconceitos de gênero das práticas de propriedade de terras, crédito e emprego.

Com a população mais jovem e de crescimento mais rápido do mundo, as comunidades ainda predominantemente rurais da África continuarão a crescer, mesmo com o aumento da migração e da urbanização. É de suma importância investir em empregos rurais e apoiar milhões de famílias de agricultores de pequena escala, além de melhorar a conectividade (física e digital) nas áreas rurais para alicerçar os sistemas agroalimentares.

O Fida compartilha da visão do IITA de aprimorar a percepção e a mentalidade sobre os sistemas agroalimentares, para que os jovens vejam as oportunidades para empresas interessantes e lucrativas, à medida que os consumidores demandam mais diversidade de produtos alimentícios. O projeto Care, que preenche essas lacunas de conhecimento, já está começando a produzir pesquisas relevantes e completas que as comunidades africanas necessitam para construir segurança e resiliência alimentar contra choques futuros e alcançar a transformação rural, inclusive da juventude rural.

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